Não foram encontrados os dados do xilografo. Imagem disponível em http://marcosnogueira-2.blogspot.com/2011/01/os-cangaceiros-de-verdade.html.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O CORDEL NA SAPUCAÍ



Este ano, a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro homenageia a literatura de cordel. O enredo foi intitulado "Cordel branco e encarnado". 
Ótima oportunidade para mostrar a riqueza do cordel.

Confira:

Cordel Branco e Encarnado
Minha “fia”, meu senhor 
Deixa eu me apresentar 
Sou poeta e meu valor 
Vai na avenida passar 
Basta imaginação 
Um “cadim” de inspiração 
Que eu começo a versar

Vou cantar a minha arte 
Que nasceu bem lá distante 
Num lugar que hoje é parte 
Da nossa origem errante 
Vim das bandas da Europa 
Nas feiras, a boa trova 
Era demais importante!

Foi assim que o mar cruzei 
Na barca da encantaria 
Chegou por aqui um Rei 
Com bravura e poesia 
Carlos Magno o os doze pares 
Desfilando pelos mares 
Da mais real fidalguia

E veio toda a nobreza 
Que um dia eu imaginei 
Rainha, duque, princesa 
E até quem eu não chamei: 
Um medonho de um dragão 
Irreal assombração 
Dessa corte que eu sonhei

Também tem causo famoso 
Que nasceu lá no Oriente 
De um tal misterioso 
Pavão alado imponente 
Que cruza o céu de relance 
Dois jovens, e um só romance 
Vencendo o Conde inclemente

Todas essas histórias 
Renasceram no sertão 
Onde vive na memória 
O eterno Lampião 
E não houve um brasileiro 
Que de Antônio Conselheiro 
Não tivesse informação

Pra viajar no meu verso 
É preciso ter “corage” 
Vai que um bicho perverso 
Surge que nem “visage”? 
Nas matas sertão afora 
Lobisomem, caipora 
Que medo dessas “image”!!

Pra findar esse rebuliço 
Rezar é a solução! 
Valei-me meu “padim” Ciço! 
Vá de retro, tentação! 
Nossa Senhora eu não quero 
(Tô sendo muito sincero) 
Cair nas garras do cão!

E não é que meu santo é forte? 
Cheguei ao céu divinal 
É tamanha a minha sorte 
A minha vitória afinal 
É cantar com alegria 
Fazer verso todo dia 
Na terra do carnaval

Ao ver chegar a tal hora 
Da minha “alegre” partida 
Saudade, palavra agora 
Tem posição garantida 
Mas não se avexe meu irmão 
Que hoje a coroação 
Acontece é na avenida

Pois eles hão de herdar 
Todo esse sertão sonhado 
Monarcas que vão reinar 
Na corte do Sol dourado 
Poetas de tradição 
Recebam de coração 
Um cordel Branco e Encarnado

E agora eu vou sem medo 
Fazer festa “de repente” 
Vai nascer um samba-enredo 
Pra animar toda a gente 
Afinal, não sou melhor 
Muito menos sou pior 
Só um poeta diferente!

Renato Lage, Márcia Lage, Departamento Cultural