Está com mais de cem anos
A nossa Literatura
De Cordel, que no Brasil
Já é parte da Cultura;
Seu legado traz renovo
À alma do nosso povo,
Qual chama ardente e pura!
Está vivinho da silva
O nosso belo Cordel;
Já é tema de mestrado,
Estudado com laurel;
Cada dia, aumentam mais
Os prestígios triunfais
Do cantador-menestrel!
Cordel é luz, é paixão,
É uma réstia de paz!
É esta grande alegria,
Magia de encanto assaz;
Cordel é flama-canção
Que brota do coração
E flui em tons divinais...
Tem um luso parentesco
Este canto popular.
A Escola Gil Vicente
Ficou famosa além-mar;
Dela cito Afonso Álvares
Com o Ribeiro Tavares
E o cego Baltasar.
Lá, na Corte Portuguesa,
O El-Rei, grande senhor,
Foi, do nobre populário,
Ilustre admirador;
Sendo, assim, leitor fiel
Dos folhetos de Cordel
E das sagas de amor.
Em Provença, sul da França,
Trovadores e jograis
Já recitavam cordéis
Para os senhores feudais.
E o Monarca Dom Diniz
Foi um discípulo feliz
Dos vates provinciais.
É também dos Colportage,
– Literatura Francesa –
E inda dos pliegos sueltos
Ibéricos, com certeza,
A fonte inspiradora,
Energia geradora
Do Cordel da nossa mesa.
Aqui, no nosso país,
Os primeiros cordelistas
Foram Leandro de Barros
E o Francisco Batista;
Também devo ressaltar
O Silvino Pirauá,
Que foi também grande artista.
Foram esses nordestinos,
Com outros lá do sertão,
Que difundiram Cordel
Para toda a Região.
Depois, pra São Paulo, a mil...
Enfim, pra todo Brasil:
Celeiro de tradição!
Cordel, folheto ou romance:
Popular Literatura!
Comunicação de massa
Que até hoje fulgura;
Páginas em parcos papéis;
E as capas, artes fiéis:
Clichês ou xilogravuras.
Vou agora relembrar,
Numa pungente emoção,
Títulos de alguns cordéis
Que formavam a coleção
De Nenzinha Oliveira,
- Cantadora brasileira -
Mãezinha, do coração!
Lembro quando ela cantava
“A Sina de Lampião”;
“Pelé na Copa do Mundo”
e “Brasil, Tri-campeão”;
“Bocage em Disparate”,
“Camões e o Grande Debate”,
“Juvenal e o Dragão”.
“A Donzela Teodora”
e “O Sofrimento de Alzira”;
“Posseiros do Maranhão”
e “A Bela Índia Potira”;
“Peleja de Riachão
Com o Diabo no Sertão”
e “A Origem da Mentira”.
“As Proezas de João Grilo”;
“O Nordeste sem Inverno”.
“O Príncipe do Barro Branco”
e “Paraíso Moderno”;
“A Princesa Encantada”
e ainda “A Chegada
De Lampião no Inferno”.
Sempre disse e reafirmo:
Respeito o bom cantador!
Pois carrego nas artérias
O escarlate licor
Da Cultura Popular,
Que é meu mel, meu manjar,
Imuniza-me da dor!
Qual sangue na minha veia,
O Cordel nutre meu ser.
Seus matizes pueris
Presentes no meu viver,
Sublimam meu coração.
Mostram-me sempre o perdão
Em cada amanhecer.
O Cordel é relicário
Que guarda reais valores;
Seu universo acalanta
Artistas e Cantadores
Altivos, cheios de brio,
Versando horas a fio
Em repentes multicores.
A Cultura Popular
Com sua desenvoltura
Já deu ao mundo das artes
Iluminadas molduras...
Por isto, em motes celestes,
Aplaudo e saúdo os mestres
Da Folk-Literatura.
Os enlevos cordelinos
Habitam a nossa essência;
Desafiam os tratados
E os desígnios da Ciência.
O menestrel-genuíno
É, com o seu dom divino,
Herdeiro da Providência!
Ó Divino Rei do Estro,
Jesus, ó Supremo Artista,
Iluminai os caminhos
De cada um cordelista;
Amparai seu galardão,
Seu plectro, sua criação:
Condão, Cordel altruísta!