Não foram encontrados os dados do xilografo. Imagem disponível em http://marcosnogueira-2.blogspot.com/2011/01/os-cangaceiros-de-verdade.html.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sistematização: CULTURAS E LINGUAGENS EM FOLHETOS RELIGIOSOS DO NORDESTE


BRITO, Gilmário Moreira. Inter-relações em linguagem oral, escrita, gestual e visual na literatura de folhetos religiosos. In: Culturas e linguagens em folhetos religiosos do Nordeste. São Paulo: Annablume, 2009. 234p.

Ø  Autor busca “compreender como inter-relações de linguagens orais, escritas, gestuais e visuais, presentes em textos de folhetos religiosos contribuíram na construção de culturas religiosas no Nordeste do Brasil” (p.189)

Ø  O estudo de imagens de capas de folhetos implica nas interconexões visual/escrita, imagem/letra (p.189)


Ø  Capítulo destinado à produção bibliográfica sobre a iconografia e, principalmente, a xilogravura, atentando para as possibilidades de aprender como a produção de uma linguagem visual da capa se relaciona com o despertar de uma sensibilidade que permite “reelaborações de imagens, gestos, poesias e imaginários religiosos” (p.189)

Ø  “Gravura enquanto possibilidade de leitura visual, de grupos populares do nordeste” (p190)

Ø  Orlando da Costa Ferreira: pesquisador do trabalho desenvolvido por xilógrafos, talhodocistas e litógrafos brasileiros do século XIX, além de artesãos, técnicos e artistas. (p.190)

Ø  (...) ”gravura é um condutor de imagens, uma matriz criada a partir de uma placa ou prancha de material dotado de certa plasticidade, que transmite ao papel, mediante pressão, as linhas ou zonas que formam a imagem desejada. Essa imagem integral e autônoma, aderente ao papel, também denominada de estampa, foi criada para ser reproduzida várias vezes” (p.190)


Ø  Gravura serviu como o primeiro suporte técnico a um processo de reprodução de imagens. (p191)

Ø  Gravura: uma linguagem produzida que, ao ser reproduzida, incorpora experiências ativas que o gravador estabelece com seu público. (p191)

Ø  Processo de produção e transmissão do cordel se assemelha ao cinema em sua fase inicial. (p191)

Ø  Maria Angélica Melendi diz: “...a visão jamais é pura visão (...) há sempre um voz que diz como ver” (p.191) (dialogando com Foucault)

Ø  Literatura de folhetos influenciou grandes romancistas brasileiros e, também, o cinema novo. (p.193)

Ø  Leitura de um cordel é um ritual que se realiza através de uma leitura coletiva, onde nem sempre o comprador é o leitor. (p.193)

Ø  Segundo Ferreira a gravura popular visa apenas a comunicação, diferente da erudita que apresenta planos artísticos e documentais. (p.194)

Ø  Estampa popular presente em cerimônias religiosas. Transmissão de fé através da memória visual. (p.195)

Ø  Gravuras de santos frequentemente produzidas por artistas eruditos que se vestiam de gravador popular. (p.195)

Ø  “Se por um lado, a xilogravura é produzida por um artesão em diálogo e troca de experiências com seu público, ela é, quase sempre, transmitida a sujeitos possibilitando leituras individuais e principalmente coletivas, valendo lembrar que o cinema é produzido coletivamente para ser consumido, necessariamente, por uma coletividade” (p.196)

Ø  Primeiro livro ilustrado com xilogravura: De Vita Christi por volta de 1495. Gradativamente os xilógrafos deixaram de ser exclusividade dos livros passando a se tornar populares nos folhetos. (p.197)

Ø  Romances populares com grande divulgação na Europa chegam ao Brasil em 1815 impressos pela Imprensa Régia. Apresentavam xilogravura na folha de rosto “que nada parece ter herdado das antigas oficinas europeias” (p.197-198)

Ø  Literatura popular assume forma de folheto acompanhado da xilogravura de rude corte. (p.199)

Ø  Entre 1866 e 1900 havia nove tipografias nas pequenas cidades de Pernambuco. (p.199)

Ø  Cabeçalhos de jornais e capas de folhetos denominados grosseiros e caricatos. (p.200)

Ø  Cordel nordestino como continuidade do folheto de feira português. (p200)

Ø  Xilogravura inicialmente conhecida através da utilização pelas missões religiosa, traduzidas em folhas volantes. (p.201)

Ø  Imagens religiosas trazidas pelas missões religiosas foram sendo incorporadas aos artistas brasileiros. Essa reelaboração das imagens religiosas ultrapassou a mera cópia ”parece que tudo começou de novo” (p.201)

Ø  Literatura popular possibilita processos contínuos de reelaborações e incorporações. (p.202)

Ø  Ao articular sons e desenhar traços, os sujeitos compõem imagens que constituem outro texto, contaminando e modificando a escrita. (p.202)

Ø  Análise da capa do folheto: Novena a Santa Rita de Cássia (p.203)

Ø  Análise da capa do folheto: Novena em honra a Nossa Senhora das Dores (p.204)

Ø  Análise da capa do folheto: Ofício da Imaculada Conceição (p.206)

Ø  Análise da capa do folheto: Só meu deus e mais ninguém  (p.207)

Ø  Análise da capa do folheto: Discussão de Manoel Camilo com um protestante (p.210)

Ø  Análise da capa do folheto: Discussão de um católico com um protestante (p.212)

UNIFICAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA: UMA TENTATIVA DE CAMUFLAR AS DESIGUALDADES SOCIAIS

Por: Caren Teixeira da Silva


Não se preocupemo co jeito que falemo: Considerações acerca das concepções de linguagem e consciência linguística envolvidas no processo ensino/aprendizagem da língua, é o título de um brilhante artigo da Mestra Daniela Cardoso. No texto, a autora questiona as práticas exercidas no processo de ensino/aprendizagem da língua materna, tendo em vista que a escola desempenha de forma ineficaz seu papel de formar bons leitores e escritores.

Publicado em 2004, pela Revista virtual de estudos da linguagem, o artigo é mais uma tentativa enfatizar a importância do respeito às variações linguísticas, pois a normatização da língua faz com que as pessoas se envergonhem da sua variação.
Em um primeiro momento, a professora traz ideias dicotômicas de autores renomados que estudam a questão linguística, permitindo ao leitor uma maior compreensão e reflexão da temática. O primeiro a ser citado é Saussure que, com sua visão estruturalista, estuda a língua independente do sujeito. Em oposição, Bakhtin estuda a língua levando em conta as relações sociais, compreendendo-a como atividade humana, assim como Marx e Engels, também citados pela autora, que dizem ser as relações sociais a razão da linguagem.
Ao tratar da identidade linguística, a gaúcha cita França, que diz que é através da fala que nos deixamos reconhecer pelos outros. Neste mesmo sentido, Fiorin aborda a linguagem como a mediadora do processo de construção de identidade por meio das relações sociais, afirmando que a língua faz com que os indivíduos façam parte de um determinado grupo social.
No quarto tópico - Diversidade e unidade linguística, Cardoso relata que a variação linguística é consequência das diferenças sociais causadas pelo fato da educação de qualidade ser privilégio de poucos. E como já era de se esperar, a linguista faz referência à Bagno, que com competência trata do “preconceito linguístico” existente em nossa sociedade.
Nessa direção, a autora discute sobre “o critério da norma culta”, relatando que é a partir da variação social que se constrói a padronização da língua, visto que, a variedade padrão é e sempre será a falada pela classe dominante. Nesse momento, Cardoso utiliza a idéia de Alkmin para mostrar que a tentativa de unificação da língua é o mesmo que tentar impor a cultura da classe dominante a outros grupos sociais.
A última seção é destinada a reflexões acerca de transcrições de diálogos de alunos, filhos de agricultores do MST, da Escola Estadual 29 de Outubro, localizada no Assentamento 16 de Março, no Rio Grande do Sul. A linguísta chega ao ápice do texto, mostrando, por meio de exemplos reais, as angústias e tensões existentes em um meio social de falantes da variação não padrão. È surpreendente e, até mesmo, emocionante ver como aquelas crianças se sentem reprimidas e humilhadas. Mesmo sem saberem os conceitos de variação e norma culta, as crianças identificam o “certo” e o “errado” a partir do momento que são corrigidas de maneira agressiva pelos professores, e que são humilhadas pelos colegas quando utilizam a variação diastrática
Apesar do reconhecimento das variedades linguísticas, as crianças apresentam resistência em mudar. O motivo pelo qual elas querem aprender a norma culta é o de não passar mais vergonha, pois para esses pequenos seres a única função da língua é compreender e ser compreendido.
Cardoso finaliza o texto relatando que as escolas, em sua maioria, trazem concepções estruturalistas, não respeitando sua identidade linguística. A proposta da Mestra, formada pela PUCRS, é que no processo de ensino/aprendizagem haja uma aceitação das variedades. Posteriormente, os professores devem conscientizar os alunos das diversas possibilidades de leitura. Por fim, a escola deve promover a emancipação do aluno, que, consciente das funções da linguagem, possa se posicionar e utilizar a língua de forma coerente.
A leitura desse artigo possibilita novas reflexões e questionamentos sobre a variação linguística e o impacto que elas causam em alguns setores sociais. Após a visualização das práticas de ensino/aprendizagem e dos danos que essa prática causa aos alunos, mostrada de forma tão profunda e sensível por Daniela Cardoso, o leitor jamais terá a mesma visão de mundo. Este texto é, sem dúvidas, indispensável para os atuantes e futuros profissionais da educação.