Não foram encontrados os dados do xilografo. Imagem disponível em http://marcosnogueira-2.blogspot.com/2011/01/os-cangaceiros-de-verdade.html.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ANTONACCI, Maria Antonieta. Culturas da voz em circuitos África/Brasil/África. 2004

Trabalhando lendas, contos, cantorias, literatura oral de folhetos enquanto materialidades renascentes de culturas da voz em circuitos África/Brasil/África, focalizamos injunções multiculturais na perspectiva de contribuir para compreender rotas e circuitos em travessias do Atlântico e de participar de latentes diálogos entre tradições orais e escritas disseminadas em territórios de memórias orais.

A partir de argumentações de estudiosos como Hampatê Bá, Zumthor, Vigarello, em relação a tradições orais, culturas da voz, densidade histórica do corpo que é colocado como um dos suportes de culturais orais e registros de contos e cantorias como encontros/confrontos de letra, voz, imagens.

Nesse sentido, acompanhamos evidências (busca), ainda que fragmentárias, de rastros de territórios de oralidades e de corpos africanos e afro-brasileiros em memórias de pelejas travadas no chamado Nordeste do Brasil, desde finais do Oitocentos, sondando sinais de lutas e transgressões às perspectivas escravizantes de africanos nas margens do “Atlântico negro”.

Articulando o que captamos em folhetos de literatura oral e em tradicionais cantorias no Nordeste do Brasil, com contos narrados em África e no Brasil, surpreendemos inúmeras aventuras e histórias sobre animais. Tematizando façanhas de heróis com seus animais, animais heroicizados, ou “aventuras do reino encantado da bicharada”, narrativas de folhetos de literatura oral aproximam-se de memória cantada que ganhou registros de cronistas, viajantes, folclorista, literatos. Suas recolhas remetem a cantadores que revestiam-se de características de temidos animais.

Tais expressões populares, com vozes dissonantes entre seus narradores, apontam, para além de documentos convencionais, quão longo, conflituoso, complexo foi o fazer escravo de africanos vencidos e vendidos em portos de África e comprados no Brasil. O boi marcou fortemente o imaginário de todo o Brasil, proliferando nos folguedos bumba-meu-boi e em vários folhetos de cordel. Tal presença, “largamente disseminada entre povos bantu [sendo que] no período das colheitas é conduzido em procissão no meio de cantorias e danças”, foi considerada por Nei Lopes uma das “etiologias do Bumba-meu-boi.”

As cantorias, associadas a festas, pelejas, folguedos populares, operam como vias de acesso a esta Gesta dos Animais em tradicionais poéticas orais. A literatura de folhetos, herdeira de repertórios de cantorias e de histórias do romanceiro português, circula no Nordeste desde o final do século XIX, quando grupos populares conquistaram suporte material para impressão e transmissão de palavras cantadas. Os folhetos retomam narrativas de contos, aventuras, romances, preservando, em seus versos, memórias de histórias encantadas, “do tempo em que os bichos falavam”, sentavam à mesa para comer, dançavam, casavam, assombravam e intercruzavam reinos humanos e animais.

Poetas versificaram injunções dos reinos humano e animal, narrando visões de mundo em que animais participavam de experiências sociais, como em folheto do poeta José Hermínio, que associa estes tempos ao das histórias contadas por africanos, (....) no tempo que os animais falavam.

Reconstruindo cenários de terreiro de casa grande, onde nascera e se criara, este poeta (José Hermínio) registrou em folheto que, em fazendas escravagistas, nos descansos noturnos, era chegada a hora e a vez dos trabalhos da memória, que mobilizam o corpo e os sentidos sob a dinâmica boca/ouvido. Enquanto cantadores de muitas gerações, africanos tomavam a palavra e o ritmo de seus universos poéticos, marcados pelo encantamento da convivência de todos os seres e elementos da natureza, narrando aventuras trazidas de outros tempos e espaços.

Nestas memórias cantadas, todos “viventes” eram iguais em tempo, espaço, relações que deixaram recordações. Ainda chama atenção que características delineadoras de animais tornaram-se atributos qualificadores de perfis humanos, em sentido físico, moral ou mental.

  • As narrativas vinculavam muitos valores morais
A narrativa popular projeta contextos de brincadeiras, de humor, de sátiras e inversões da ordem vigente, construindo cenários irreverentes, em criativa versificação onde animais ocupavam funções de “direção” em paisagens florestais.  

  • Animais como: Boi e Macaco eram personagens bem significativos nas narrativas e remitiam a uma vivencias, história e cultura África
Mais que simbologias do macaco, este conto expõe acentuadas resistências de africanos a trabalhos forçados, como intolerâncias entre povos de diferentes culturas. No seu enredo, liberdade representa o tempo em que os animais falavam; suas fugas e emudecimento, o tempo de reações, transgressões e lutas, dos dois lados do Atlântico, antes de sucumbirem à escravização.

Na perspectiva do conflituoso processo de escravização de africanos no Brasil, evidenciando que resistiram e lutaram, de múltiplos modos, a “ser escravo’’, o universo dos folhetos de cordel ainda produziu imagens referentes a esta não-aceitação da condição escrava.

Como Gilberto Freyre apontara em Casa–grande & senzala (1933), as transformações que o romanceiro português experimentou no Nordeste do Brasil, em suas interações com tradições africanas, passaram pela “boca das negras velhas ou amas-de-leite (…) que se tornaram entre nós as grandes contadoras de histórias”. Para Freyre, “o akpalô, constituíram “uma instituição africana que floresceu no Brasil na pessoa de negras escravas que só faziam contar histórias”, andando “de engenho em engenho”. Por seu intermédio, “(…) histórias africanas, principalmente de bichos – bichos confraternizando com as pessoas, falando como gente, casando-se, banqueteando-se – acrescentaram-se às portuguesas, de Trancoso, contadas aos netinhos pelas avós coloniais.

(...) Nina Rodrigues ressaltara a importância do “contador yorubano que muitas vezes se serve de um tambor, com o ritmo do qual preenche as narrativas”, sugerindo relações ritmo, cadência corporal, memória cantada, reatualização de tradições, leituras populares. Impregnado por formulações sobre a inferioridade e animalidade de hábitos africanos, Rodrigues filtrou crenças, costumes, corpos, ritmos, práticas de transmissão e de leituras africanas sob as lentes do microscópio científico da biologia. Com estes antolhos, mesmo trazendo dados que possibilitam trabalhar a complexidade com que grupos africanos e afro-brasileiros refizeram, atualizaram e transmitiram suas tradições e culturas orais em terras estrangeiras, sob violentos controles e punições escravizantes, os indícios de seus modos de memorização e exercícios de cantorias e leituras de contos, associados a musicalidades e gestualidades corporais, continuaram velados sob argumentações de estarem no denominado “animismo fetichista”, totemismo primitivo distanciado dos chamados “povos civilizados”.

Cadenciados por musicalidades inerentes a relações de corpos com artifícios sonoros, cantadores, contadores de histórias e outros profissionais desenvolvem gestos e performances compassados por pulsões corporais – sopros, pressões de dedos, fricção de arcos em cordas, batidas de palmas – no contato com instrumentos musicais. Corpos que se prolongam e afinam com instrumentos musicais constituem suportes de memórias e literaturas orais em culturas populares.

Para nossas perspectivas de estudo, culturas da voz africanas e afro-descendentes no Brasil, importa reter que grupos tributários de matrizes orais arquivam seus saberes vivos em provérbios – expressões sintéticas de contos, lendas, mitos – que, de longa ancestralidade, são continuamente atualizados e ressignificados, orientando condutas e relações comunitárias, posturas frente aos demais seres dos reinos vegetal, animal e mineral, quanto com seus antepassados, em renovadas interações com os universos visível e invisível. Tais grupos, constituídos por expressões de oralidade, interpretam, orientam e exercitam leituras e transmissões de suas experiências vividas a partir de lógicas de mentalidade proverbial, susceptível a diferentes leituras e sentidos em contextos temporal e espacialmente diferenciados, deslocando-se em dimensões trans-históricas.

Significativamente, a presença de animais em culturas populares do Nordeste do Brasil não se restringiu a contos, lendas, crenças, festas, provérbios, folhetos de literatura oral. Enquanto pressuposto de visões de mundo e de culturas constituídas em subjetivos e solidários intercâmbios com a natureza, expressões destas relações cultura/natureza espraiaram-se pelo cotidiano de regiões nordestinas, em torno de seu “dialético faunístico”, deixando perceber intensa imbricação de heranças indígenas, africanas e portuguesas.

Imagens e provérbios de tradições orais africanas, recolhidos no acervo do Museu de Ouro, longe de qualquer perspectiva de animismo fetichista, totemismo primitivo, surpreendem pelo refinamento e engenhosidade de injunções cultura/natureza entre povos e culturas africanas. Dimensões da historicidade destas relações podem ser acompanhadas em expressões artísticas expostas na Galeria de Arte de Johannesburg, que abriga “modernidade” ignoram outras lógicas e racionalidades culturais. Barbarizaram e empurraram seus portadores para tempos primitivos, incultos a-históricos.

Estranhamento e intolerância de etnólogos, antropólogos, médicos, psicólogos, literatos, folcloristas e demais estudiosos frente a costumes, tradições, crenças, valores de ameríndios, africanos e afro-brasileiros, colocados a margem do encontro/confronto do Velho com o Novo Mundo outras experiências de vida e de poder, de valores e expressões culturais. Percepções de mundo, práticas de leituras e escritas, corpos, sensibilidades, saberes, hábitos, culturas – historicamente ignoradas, descartadas ou desqualificadamente considerados tão-somente como índices hierarquizados de povos e culturas constituídos fora dos cânones letrados e científicos do expansionista iluminismo europeu -, a partir de movimentos sociais e estratégias de resistência culturais limítrofes vêm rompendo barreiras históricas e deslocando fronteiras.

Explicitando a visceral diferença das culturas africanas de tradição oral em relação às “(...) lâminas cartesianas que fatiaram o mundo” em reino animal, vegetal, mineral, humano, Hampâté Bâ deixa ver, para além de diferenças localizadas em termos de letrados/iletrados, que as divergências situam-se na cosmo visão de mundo, nas formas de viver, ler e interagir com as forças da natureza.

Fundado na iniciação e na experiência, (...) que se liga ao comportamento cotidiano do homem e da comunidade, a ‘cultura’ africana não é algo abstrato que possa ser isolado da vida. Ela envolve uma visão particular do mundo, ou melhor, dizendo, uma presença particular no mundo, concebido como um Todo, onde todas as coisas se ligam e interagem. (Hampâté Bâ).

ABREU, Márcia (org.). Prefácio: Percursos da leitura. In: Leitura, História e História da Leitura. ABREU, Márcia (org.). 2002. Mercado de Letras.


A estranheza que nos causa a idéia de que a leitura seja um “veneno” devastador é proporcional à empatia que sentimos diante da afirmação de que a leitura é fator determinante para o sucesso das pessoas, e sendo capaz de minimizar os efeitos da pobreza, da cor, do gênero. No final do século XX, imagina-se que a leitura, revestida de uma aura positiva, é capaz de proporcionar os mais variados benefícios: tornar os sujeitos mais cultos e, por conseqüência, mais críticos, mais cidadãos, mais verdadeiros. (p.9-10)
Mas nem sempre (a leitura) foi vista dessa forma tão positiva. Ao contrário do que hoje fazemos, sucederam-se, ao longo da história diversos movimentos para afastar as pessoas da leitura, vista como grande perigo. A idéia de que os livros eram portadores de um ‘veneno lento que corroia as veias’ esteve subjacentes a variados movimentos de interdição de leitura. Os desejos de proscrevê-la ancoraram-se nas justificativas mais variadas. (p. 10)
Século XVIII Tissot diz que a leitura é prejudicial a saúde. (p. 10)
Mas, maior cuidado inspirava as leituras que apresentam perigos para a alma, aquela que coloca em risco a moral. Dizia-se que os livros divulgavam ideias falsas, fazendo-as parecer verdadeiras, estimulavam demasiadamente a imaginação, combatiam o pudor e a honestidade. (p. 10)
Os (...) romances pareciam ser os mais ameaçadores, pois colocavam os leitores em contato com cenas e situações reprováveis, subvertendo o sistema de valores no qual a sociedade deveria ancorar-se. (p. 10)
O poder de alterar comportamentos, atribuídos à leitura, não era, em si, um mal. O problema adivinha do fato de que os livros não ensinavam apenas atitudes recomendáveis. Eles corrompiam a inocência, afastavam da virtude, favoreciam o crime, pois as pessoas desejavam transpor para a vida aquilo leram nos livros. (...) Considerando a gama de malefícios, provocado pela leitura de romances, chegou-se a propor, na França, que houvesse leis proibindo tanto sua criação quanto a venda de romances nacionais e importados. (p. 12)
Não é necessário insistir na difícil relação mantida pelas instituições religiosas – sobretudo a Igreja Católica – com os livros. (...) a explicitação da ideia de que há mais maldade e perigo em heresias e erros difundidos por escrito e sob a forma de impressos do que naquelas proferidas em viva voz, ou praticadas. Isso por que os livros têm a capacidade de difundir mais amplamente as ideias e com menor alarido: (p. 13)
Assim como as questões morais são contíguas a questão religiosa, estas foram – e são ainda, em muitos lugares – contíguas ao poder político. Razões semelhantes às que deram origem ao desejo de controlar leituras religiosas conduziram à vontade de banir livros tidos por subversivos, seja porque contestava o sistema político em vigor, seja porque questionava a atitude dos governantes, seja porque os ridicularizavam. (p. 13)
A leitura (e o acesso à instrução escolar) faria perceber as desigualdades sociais, gerando descontentamento e insubordinação. Uma vez que os pobres deveriam permanecer pobres, seria melhor que não se alimentassem ideias que os fizessem desejar alterar seu estado. (p. 13-14)
Da mesma forma, o atual elogio à leitura não se dirige ao contato com os livros em geral. Ao mesmo tempo em que segundo dados da Unesco, a produção de livros e jornais assim como a frequência a biblioteca crescem, o fantasma da crise da leitura parece assombrar os países ocidentais. (p. 14)
Na verdade, lê-se muitos livros de auto-ajuda, de vulgarização cientifica, muita ficção cientifica, histórias em quadrinhos, lê-se muito livros hobby, sobre astro, música e do cinema, muitas recolhas de piada.  Mas lêem-se poucos os “bons livros”:  pouca filosofia, pouca literatura erudita, pouca reflexão política séria.  (p. 14)
O repudio ou estimulo à leitura só podem ser bem compreendido se forem examinados os objetos que se tomam para ler e sua relação com questões políticas, estáticas, morais ou religiosas nos diferentes tempos e lugares em que homens e mulheres, sozinhos ou acompanhados, debruçaram-se sobre textos escritos. (p. 15)
A leitura não é uma prática neutra. Ela é campo de disputa, é espaço de poder. (p. 15)
-1 (...) breve amostra das diferentes relações estabelecidas pelos homens com os livros e a leitura ao longo do tempo. (p. 15)

CHARTIER. Roger. Parte I: História de leituras. In: Leitura, História e História da Leitura. ABREU, Márcia (org.). 2002. Mercado de Letras.

1.                  Por muito tempo historiadores ocidentais consideraram a relação entre impressão, publicação e leitura somente pelos padrões da invenção de Gutenberg, como se ela fosse uma condição necessária para a criação de um grande conjunto de leitores e para o desenvolvimento de publicação intensa. (...) Na China e no Japão - A gravação em madeira é mais bem adaptada que a tipografia às línguas que são formadas por um grande número de caracteres ou por vários alfabetos. Além disso, a gravação madeira mantém uma forte ligação entre o manuscrito e a publicação, uma vez que o bloco madeira provém de modelos de caligrafia. (p. 19)
A invenção de Gutenberg, embora de fundamental importância, não é a única técnica capaz de assegurar a disseminação em grande escala de textos impressos. (p. 20)
O tipo móvel foi inventado em civilizações asiáticas bem, antes se sua descoberta no Ocidente. O tipo móvel em terracota era usado na china desde o século XI. (p. 20)
A civilização da impressa e da publicação não pode ser restrita somente à “galáxia de Gutenberg” (p. 20)
2.                  (...) publicar uma texto não implica necessariamente em imprimi-lo. Por um lado, se é verdade que a impressão substituiu o manuscrito com meia de reprodução e disseminação textos após a metade do século XV, a cópia manual continua a ocupar um lugar importante na circulação de vários gêneros de textos. (difusão de cópias manuscritas entre números limitados de leitores) (p. 21)
(Escritores e eruditos) menosprezaram o comércio livreiro que corrompia ao mesmo tempo a integridade dos textos, distorcidos pelas mãos dos mecânicos rústicos (...), (p.21).
(...) é necessário lembrar quão numerosos são os gêneros e trabalhos antigos que de maneira alguma almejavam um objeto impresso como veículo e um leitor solitário e silencioso como alvo. Compostos para serem declamados ou para serem lidos em voz alta e compartilhados por um público ouvintes, invertidos como uma função ritual, tidos como máquinas designadas a produzir certos efeitos, eles obedecem às leis próprias, à transmissão oral e comunitária. (p. 21)
Desde a antiguidade ler em voz tem dois propósitos: 1 - função pedagógica – demonstrar ser um bom leitor; rito de passagem dos jovens - exibir o domínio da retórica e do falar em público. 2 – Propósito literário - é para o autor, colocar um trabalho em circulação, publicá-lo. (abandonado no inicio da idade moderna.) (p. 21-22).
A inversão de Gutenberg tornou possível a reprodução de textos em grande número de cópias, transformando, assim, as condições de transmissão e recepção de livros. (p. 22-21) – Com a impressão:
a)      Reduziu-se o custo por copia da produção de um livro;
b)      Reduziu-se o tempo necessário para produção de um livro;
c)      Acesso do leitor individual ao um número maior de livros;
d)     Cada livro poderia atingir mais leitores.
3.                  (...) não podemos considerar de maneira muito direta a inversão e a difusão da impressa como responsável por acarretar um rompimento fundamental na história da literatura. As ‘revoluções da leitura’ são múltiplas e não estão imediatamente ligadas à inversão ou às transformações da impressa. (p. 23)
Mudanças
Leitores passam de uma prática oral (compreensão do significado - antiguidade), para uma leitura silenciosa (visual – idade média séc. XII e XIII)
(...) a contrario dessa evolução nas sociedades ocidentais de hoje, nas quais as pessoas são consideradas iletradas não somente pelo fato de não ler de modo algum, mas também pelo fato de só serem capazes de entender um texto quando o lêem em voz alta. (p. 23)
A difusão da possibilidade de ler silenciosamente marca uma ruptura de importância capital. A leitura silenciosa permitiu um relacionamento com a escrita que era potencialmente mais livre, mais íntimo, mais reservado. Permiti uma leitura rápida, especializada e capaz de lidar com as complexas relações estabelecidas na página do manuscrito entre o discurso e suas interpretações, referências, comentários e índices. (p. 24)
4.                  A segunda revolução na leitura ocorreu durante a era da impressão, mas antes da industrialização da produção do livro. (p. 24) no Séc. XVIII na Alemanha, França, Inglaterra e Suíça. Mas, não ocorreram grandes mudanças na tecnologia de impressão.
Apoiou-se em diferentes circunstâncias:
a)      Crescimento da produção de livros – triplicou (inicio do século e anos 80)
b)      Multiplicação e transformação dos jornais
c)      Triunfo dos livros de pequenos formatos
d)     Proliferações das instituições (sociedades da leitura, clubes do livro, biblioteca de empréstimo), tornaram-se possível ler livros e periódicos sem comprá-los.
e)      Desenvolvimento de novos gêneros textuais e novas práticas de leituras.
Os novos leitores devoravam um grande e uma imensa variedade de impressos efêmeros. Ele liam rápido e avidamente, submetendo o que tinha lido a um julgamento crítico imediato. Uma relação comunal e respeitosa com a matéria escrita, feita de reverência e obediência, deu lugar a um tipo de leitura mais irreverente e desprendida. (p. 25)
Hábitos mais antigos de leitura mudaram para uma nova forma literária. O romance foi lido, e relido, memorizado, citado e recitado. Os leitores eram tomados pelos textos que liam; eles viviam o texto, identificando-se com os personagens e com a trama. Toda a sua sensibilidade estava engajada nessa nova forma de leitura intensiva. (p.25)
Além disso, o hábito de leitura dos mais populares e numerosos foram direcionados durante um longo tempo pelos modos antigos. Para eles, ler livretos baratos vendidos por mascates na Inglaterra, França e Castela era uma tarefa difícil e altamente dependente da audição e da memorização. (p. 25)
5.                  No século XIX, nova categorias de leitores (mulheres, crianças e trabalhadores) foram apresentadas a cultura impressa e ao mesmo tempo a industrialização da produção de impressos trouxe novos matérias e modelos de leitura. (p. 26)
A tipologia dos modelos de relação com a escrita que se sucederam a partir da Idade Média (passando do modelo monástico de escrita para o escolástico de leitura, das técnicas humanistas dos lugares-comuns para os estilos de leitura religiosa e espirituais da Cristandade Reformada, dos hábitos tradicionais de leitura à revolução da leitura no Iluminismo) deu lugar a uma ampla diversificação das práticas de leituras nas sociedades contemporâneas. Com o século XIX a história da leitura entra  na era das sociologias das diferenças. (p. 26)
6.                  Em nossa própria época, a transmissão eletrônica de textos trouxe outra revolução. (...) transforma a noção de contexto ao substituir a contigüidade física entre textos presente no mesmo objeto (...) por sua substituição nas arquiteturas lógicas que regem os bancos de dados, os arquivos eletrônicos e sistema de processamentos que tornam possível o acesso à informação. (p. 26 - 27)
A nova relação com o texto obriga a uma profunda reorganização da “economia da escrita”. Ao tornar a produção, transmissão e leitura de um dado texto simultâneo, e ao atribuir a um individuo as tarefas, até aqui distintas, de escrever, publicar e distribuir, a apresentação eletrônica dos textos anula as antigas distinções entre papéis intelectuais e funções sociais. (p. 27)
O mundo dos textos eletrônicos também remove a rígida limitação imposta à capacidade do leitor de intervir no livro. O objeto impresso impunha sua forma, estrutura e espaços ao leitor e não supunha participação material física do leitor. (...) tudo isso muda com o texto eletrônico. Ao apenas os leitores podem submeter o texto a uma série de operação (...), mas podem também tornar-se co-autores. (p. 27)
Tal mudança no suporte físico da escrita força o leitor a ter novas atitudes e aprender novas práticas intelectuais. (p. 28)
O texto em sua representação eletrônica, dissociada da materialidade e da localização convencionais, pode (em teoria) alcançar qualquer leitor em qualquer lugar. (p. 28)
7.                  A transferência de nossa herança escrita para tela criaria possibilidades incomensuráveis, mas causaria também violência aos textos ao separa-los de seu meio original, no qual foram publicados e apropriados. (p. 29)
Assim, parece-me que enfrentamos atualmente um duplo desafio. De um lado, a profunda transformação que está alterando atualmente todos os modos de publicação, comunicação e recepção da palavra escrita deve ser acompanhada por uma reflexão histórica, jurídica e filosófica. (...) A representação eletrônica dos textos não deve de modo algum implicar o rebaixamento, o esquecimento ou, pior ainda, a distribuição dos objetos que encarnaram, e encanaram originalmente os trabalhos do passado ou do presente. (p.30)
As estratégias de publicação sempre moldaram as práticas de leitura. Elas criam novos gênero de textos e novas fórmulas de publicação. Ao tornar os produtos de impressa mais barato e disponíveis, por exemplo, a um consumo “popular” (primeiro os livros para venda ambulante; mais tarde as coleções populares e os jornais), ofereceu-se ao público um número cada vez mais amplo e diversificado de materiais de leitura. Nesse sentido, a liberdade de escolha dos leitores só poderia ser exercida dentro de um conjunto previamente constituído com base em interesse e preferencias que não eram necessariamente os seus. (p. 30)
Dentro do território textual disponível, os leitores assumem o comando, dão significados às obras e as investem com suas próprias expectativas. Os recursos técnicos nunca tiveram uma significação unívoca. Eles podem ser dotados de diferentes usos e efeitos. Contra qualquer forma de determinismo tecnológico, temos que lembrar que as técnicas são aquilo que os produtores e usuários fazem dela. (p.31)
Mas temos que lembrar que somente preservando o entendimento da cultura impressa podemos saborear completamente a “flexibilidade extravagante” prometida pelas inovações tecnológicas. (p. 31)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira: O LEITOR ∕OUVINTE NAS PÁGINAS DOS FOLHETOS: UM ESTUDO DO TEXTO

·         A autora Ana Maria de Oliveira Galvão analisou o texto dos poemas de 8 folhetos publicados entre a dec 30 e 40 buscando neles  indícios do leitor visado pelo autor. P. 63

1.      O bárbaro crime das mattas da Varzea, assinado por João Martins de Athayde (Recife, 1928)
2.      Historia da princesa da pedra fina, assinado por Athayde (Recide, 1944)
3.      A batalha de Oliveiros com Ferrabraz, assinado por Athayde  (Recife, 1946)
4.      O cachorro dos mortos, assinado por Athayde (Recife, sem data)
5.      A lamentável morte de Getulio Vargas, sem autoria (Sem local, 1954)
6.      O pavão misterioso, sem autoria (Recife, sem data)
7.      A chegada de lampião no inferno, assinado por José Pacheco (sem local, sem data)
8.      As proezas de João Grilo, sem autoria (sem local, sem data)

·         A 2ª analise foi de um folheto que se baseia em um fato real que esta no fim do capitulo. P. 63

·         Buscou detectar marcas da oralidade (como a presença do discurso direto em relação ao indireto na construção do texto; o uso e a importância conferida aos adjetivos na elaboração do poema; a presença do elemento mítico-religioso; a questão da proximidade ou não com o interlocutor \ leitor; a utilização de um dialeto oral regional nas histórias etc.) P. 63

·         Buscou levantar hipótese acerca do tipo de raciocínio ou operação exigido do leitor para que ele pudesse fazer uma leitura fluente, sem maiores dificuldades. (considerando as antecipações e inferências, no “caminho narrativo”, impostas pelo texto ao leitor suposto) P. 63

·         Na analise dos folhetos outras fontes foram utilizadas com o objetivo de melhor compreender os próprios textos dos poemas. P. 63

·         A autora procurou reconstituir o caminho percorrido pelo poeta para construir sua narrativa através da analise das capas, dos momentos em que o poeta se dirige diretamente ao leitor e da primeira e da ultima estrofe do poema (em geral os escritores tendem a nelas concentrar os elementos que consideram mais importantes no texto.) p. 66

·         As capas, os títulos e o numero de paginas dos poemas, [...] os clichês utilizados nas capas dos folhetos, geram no leitor uma serie de expectativas que o fazem antecipar alguns elementos da história que será narrada e em que subgênero se insere no universo do cordel. P. 66

a.      O titulo anuncia o sub gênero do folheto
b.      O número de paginas auxiliam na percepção do gênero
c.       A capa antecipa as expectativas do leitor em relação ao conteúdo da história. P.67
d.      A capa traz elementos que permitem ao leitor realizar um julgamento dos personagens; a gravura “antecipa” o conteúdo da história. P. 67

Analise dos Folhetos:

1.      O bárbaro crime das mattas da Varzea por João Martins de Athayde (Recife, 1928)
Ø  8 paginas (o numero de paginas auxilia o leitor a percebê-lo com um folheto de “acontecimento”)
Ø  E o único do grupo analisado que traz abaixo do título um resumo ou uma explicação da historia: “o grande crime da noite de 29 de maio de 1928, praticado por Ladisláu Soares de Medeiros (Láu) em que foi victima sua amante Maria Firmina da Conceição (Dedé)”, dessa forma o leitor sabe que se trata de uma narrativa de um crime que havia ocorrido em uma data precisa, em que foram protagonistas personagens determinados. P.66
Ø  Capa feita de zinco com um homem negro cravando uma faca no peito de uma mulher branca. (Esses elementos permitem ao leitor realizar um julgamento dos principais personagens. P. 66
Ø  Antes de começar a ler ou ouvir o poema, o leitor já é capaz de inferir, a partir do titulo e da ilustração, sobre o tema, o enredo. P. 66
Ø  Esse crime também foi tema de uma musica bastante popular na época. P. 66

2.      O cachorro dos mortos por João Martins de Athayde (Recife, s.d.)
A ilustração é composta de dois clichês de xilogravura: em primeiro plano, um cachorro junto a três cruzes e a uma árvore; no detalhe, no lado direito e superior da página, em forma de círculo, o mesmo cachorro avançando sobre um homem bem vestido ao lado da mesma árvore.  P.67
A capa traz alguns elementos que o leitor \ ouvinte poderia inferir sobre a história: o personagem principal parecer ser um cachorro e a presença da morte.

Ø  É um romance porque possui 32 páginas. P 67
Ø  Reúne elementos sobrenaturais, o poder dos animais, o destino, fatos corriqueiros e universais – amor, traição, vingança, fidelidade, justiça, crime, verdade. p. 67

3.      A batalha de Oliveiros com Ferrabraz por João Martins de Athayde (Recife, 1946)

Ø  A capa traz uma cena em que imponentes cavalos, alguns cavaleiros cumprimentam damas de uma provável corte. A ilustração reitera, assim, para os possíveis leitores, o universo no qual a história se insere: o dos cavaleiros \ guerreiros, o das cortes medievais. P. 68
Ø  Enfrentamento (batalha) entre um cristão e um mouro, personagens conhecidos do universo popular
Ø  32 páginas

4.      A chegada de lampião no inferno por José Pacheco (s.l., s.d.)
Ø  8 paginas
Ø  Considerado clássico do gênero
Ø  Capa com xilogravura simples, homem de chapéu, calça e camisa; o diabo com duas cabeças; acrescentam pouco ao titulo. P. 68
Ø  O titulo do folheto auxilia o leitor a situá-lo no conjunto dos folhetos: não se trata da narração de um episodio ocorrido, como tantos outros publicados sobre Lampião, não se trata também de um romance, já que Lampião era um personagem real. P. 68
Ø  A partir do titulo o leitor presume que se trata de um texto irônico, jocoso. P. 68
Ø  O ritmo das estrofes é muito rápido, favorecendo a memorização. P. 68

5.      A lamentável morte de Getulio Vargas, sem autoria (s.l., 1954)
Ø  8 paginas
Ø  Faz parte de uma serie de folhetos sobre a morte de Getulio Vargas
Ø  Capa é o retrato de Vargas de meio corpo, vestindo uniforme e sorrindo. Para esse folheto, o leitor não precisava realizar grandes inferências sobre o quê tratava, pois a morte de Vargas foi noticiada por meios de comunicação.
Ø  Lamentável expressa a opinião do autor e possivelmente dos leitores. P. 68

6.      O pavão misterioso, sem autoria (Recide, s.d.)
Ø  Romance de 32 páginas
Ø  Parece ter sido primeiro uma composição oral, para depois se transformar em texto escrito
Ø  É um clássico da literatura de folhetos
Ø  Capa impressa em modo de paisagem, traz a xilogravura de um pavão, para o leitor é difícil inferir sobre o conteúdo da história apenas pela capa. P. 69

7.      História da princesa da pedra fina por João Martins de Athayde (Recife, 1944)
Ø  32 paginas
Ø  A história traz elementos de contos da tradição oral
Ø  Capa tem uma fotografia de uma menina de meio corpo, com um sorriso discreto e flores no cabelo. O leitor de folhetos sabe que não se trata da representação fiel de uma princesa P.69
Ø  Essa capa pouco se relaciona com o conteúdo do poema. P.69

8.      As proezas de João Grilo, sem autoria (s.l., s.d.)

Ø  24 páginas
Ø  Histórias contadas através da oralidade
Ø  João Grilo pertence a família de anti-herois de longa tradição
Ø  Capa é a foto de homem de meia idade, elegante, como olhar perdido não se assemelha a descrição dada no poema (reaproveitamento de clichês)  p. 69

EM TODOS OS FOLHETOS AS PRIMEIRAS ESTROFES PARECEM CUMPRIR O PAPEL DE APRESENTAR OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DO POEMA, AS SEGUINTES CONSTITUEM O DESDOBRAMENTO. P. 70

A utilização de um dialeto oral regional p. 76
Ø  Em todos os folhetos analisados, verifiquei a utilização de um léxico, de expressões e de uma sintaxe típicos do dialeto regional oral. A pontuação utilizada parece muitas vezes obedecer mais ao ritmo da fala, declamatória ou não, do que às exigências da leitura. P.76
Ø  Alguns versos contêm expressões típicas da linguagem oral (a autora cita três exemplos pags 76, 77)

A presença dos diálogos, dos discursos diretos p. 78
Ø  A utilização do discurso direto, diálogos servem para aproximar o texto das narrativas orais. P.78
Ø  Discurso direto utilizado para exprimir a voz\pensamento do personagem, descrição de conteúdo de cartas ou de outros objetos de leitura. p. 78
Ø  A autora cita dois exemplos pags. 78

O papel dos adjetivos p. 79
Ø  “através dos adjetivos é possível realizar suposições a respeito dos personagens e da história, do enredo.” P. 79
Ø  Situar o leitor de que lado os personagens estão (do lado do bem ou mal) p. 80

Ø  O processo de adjetivação parece dar tom dramático e hiperbólico, causando um grande impacto emocional. P. 80

A presença do elemento mítico-religioso p. 80

Ø  O elemento sobrenatural é na verdade constitutivo das narrativas orais tradicionais e do imaginário popular, de forma geral. Auxiliando o herói na superação dos obstáculos p. 81
Ø  As narrativas orais obedecem, como têm demonstrado estudos que se detém sobre as relações entre oralidade e letramento, a certos padrões de composição que auxiliam na performace dos poetas, na memorização e na incorporação de temas e valores por partes da audiência. P.82
Ø  Ex A batalha de Oliveiros com Ferrabraz – luta (pela conversão) entre cristã e um turco. P.82

A enciclopédia do leitor p.83
Ø  A enciclopédia do leitor visado pelo poeta e \ ou editor refere-se ao local onde se passam as histórias ou a outros lugares mencionados no texto. p. 83
Ø  Folhetos de acontecimento precisam delimitar os cenários e as datas de suas historias
o   Ex. O bárbaro crime das mattas da Varzea p83
Ø  O fato de o folheto trazer a data do episodio que narra também contribui para que, no processo de recepção, o leitor \ ouvinte de folhetos compreenda a história dentro de um universo cotidiano, temporal, circunstanciado, apesar da presença dos elementos universais. p. 83
Ø  Segundo Raymond Cantel (1993) a referencia a outros locais e a outros tempos nnos romances de cordel tem uma função, sobretudo, de deslocar o leitor para outro mundo, o mundo do maravilhoso. P. 84
Ø  A autora cita exemplo da princesa da pedra fina um reino distante  semelhante ao conto de fadas.

Folhetos e jornais: uma analise comparativa do ponto de vista do leitor p 87

Ø  A autora buscou encontrar elementos para a compreensão de quem era o leitor\ouvinte de folhetos, comparando o texto do folheto a outro tipo de texto, o jornalístico. P 88
Ø  Uma primeira diferença entre as noticias veiculadas no jornal e o fato narrado no folheto parece obvia. No folheto, o leitor tem toda historia em um único espaço: o resumo dos fatos em forma de uma narrativa completa, com começo, meio e fim, e, ao mesmo tempo, a opinião\julgamento do autor. Já o jornal vai dando as noticias sobre o fato à medida que ele vai sendo esclarecido, em tempo real. P. 88-89
Ø  A ênfase do narrador está nos personagens principais envolvidos no caso e na narrativa. No jornal a ênfase esta nas investigações. P. 90
Ø  O que parece importar para o suposto leitor é, pois , menos a atualidade ou a informação sobre o fato\a noticia, e mais os valores universais rememorados pela história, nos quais ele crê e deles se alimenta cotidianamente. P. 90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

v  A maioria das histórias tem características de uma narrativa p. 91
v  As histórias são previsíveis e as vezes redundante p. 91
v  As primeiras estrofes servem para o poeta introduzir os elementos principais da historia p. 91
v  As últimas estrofes tem caráter conclusivo p. 91
v  Presença da oralidade (dialeto oral regional) p. 91
v  Uso expressivo de adjetivos p. 91
v  Recorrência ao elemento mítico-religioso p. 91
v  Repetição de esquemas narrativos (tornando alguns fatos previsíveis) p. 91
v   [...] a literatura de cordel é um genero originário das cantorias. [...] Aos poucos seu público foi se tornando menos escolarizado e de origem rural, possuindo pouco contato com o universo letrado e demandando uma literatura que utilizasse uma linguagem mais próxima ao oral. P. 92
v  Os supostos leitores \ ouvintes das histórias de cordel parecem não estar interessados em se informar sobre um fato ou conhecer o enredo de uma história, mas, através da literatura, reforçar certos valores de caráter mais universal que parecem compor seu mundo. P. 92

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sistematização: A CULTURA ESCRITA DO LEITOR/OUVINTE Ana Galvão

  • O capítulo começa com alguns questionamentos: “Os leitores /ouvintes tinham outras experiências de leitura?”, “Que experiências eram essas?”, “Como essas pessoas com pouca ou nenhuma escolarização se inseriam em culturas marcadas pela escrita?”, “Que níveis de letramento apresentavam os sujeitos que ela entrevistou?”.
  • A autora utiliza o conceito de letramento de Magda Soares para tentar compreender as diferenciações apresentadas pelos sujeitos da pesquisa. “Letramento é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter se apropriado da escrita”.
  • Sujeitos da pesquisa: moradores do recife e Paraíba, nascidos entre 1910 e 1932, sendo três analfabetos, três pouco escolarizados (até um ano de escola) e três escolarizados (até cinco anos de escola).
  • Na trajetória de todos eles, o folheto foi o objeto de leitura ou audição mais presente. Quatro deles não tiveram outras experiências de leitura ou audição.
  • O que influenciou que esses sujeitos tivessem maior ou menor contato com outras leituras?
o   A alfabetização inicial
o   Os níveis de inserção na vida urbana
o   Gênero (os espaços de sociabilidade da mulher eram restritos)
o   Profissão (fora do lar existia maior possibilidade de letramento)
  • Como se davam os processos de inserção na cultura escrita?
o   No processo de alfabetização:
§  Cartilhas, livros didáticos e carta de ABC (Jõao Martins de Ataíde, um dos principais editores de folhetos, foi alfabetizado com a carta de ABC)
o   No espaço urbano:
§  Em recife: (menor taxa de analfabetos) havia uma maior possibilidade de contato com jornais, revistas além de uma grande movimentação em torno da produção cultural (teatro, cinema).
§  Em Pernambuco: (maior taxa analfabetos) a circulação de impressos era restrita. O impresso estava mais presente nas cerimônias religiosas ( breviários, livros de missas, livro de orações)
§  Os folhetos eram mais ouvidos do que lidos
Citação p. 122

o   O papel do cinema
§  No período estudado o cinema era bastante presente no cotidiano da cidade e para todas as camadas sociais
§  A referência ao cinema estava praticamente em todas as entrevistas realizadas
§  Zé moreno destaca o cinema como seu principal professor. Ele tinha chegado a completar a cartilha do ABC, mas a legenda o fazia ser mais fluente na leitura.
o    O papel da literatura popular
§  Além dos folhetos de cordel, outros impressos populares foram citados: quadrinhos, romances policiais (Zé moreno diz que após comprar e ler ele trocava na banca por outro) e almanaques.
§  Revistas se liam pouco (uma entrevistada revelou que só teve acesso à revista depois do casamento através da mediação do marido.


  • Considerações finais:
  • Existe uma série de fatores que influenciam os modos de inserção no mundo letrado. Zé moreno, apesar de ter passado menos de um ano na escola, é um leitor fluente, pois utilizou outras vias para praticar a leitura, como o cinema, os romances, quadrinhos, etc., através da experiência urbana